segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Lado bom do AVC


Eu sempre disse que eu ganhei muito mais do que perdi  quando sofri o AVC, pois com as consequências do acidente eu pude dar valor a coisas que para mim não tinham mais importância, e tenho certeza que para muita gente também não tem, e é isso que eu tento mostrar nos meus textos aqui no blog como: a sensensação deliciosa da água do chuveiro caindo sobre a nossa cabeça, tomar um copo de água, comer comida de verdade, não sopa, papinha, essas coisas, sentar, andar, conseguir se vestir sozinha, tomar banho sozinha, sair de casa com as amigas sozinha, recuperar sua autonomia, sua independência mesmo que aos poucos são coisas que não tem preço, pois só quando você não consegue fazer nenhuma dessas coisas é que você dá valor quando volta a fazer. É aquela velha história, a gente só dá valor quando perde…
Sabe, quando eu não conaeguia beber água só se molhava minha boca com uma gaze úmida, pois na época eu ainda usava uma sonda nasal, que levava a água direto até o meu estômago, mas eu tinha aquela sensação de sede por a água não passer pelaminha boca, por isso o uso da gaze úmida, para aliviar essa sensação e quando eu voltei a beber água foi de colher, porque o risco de engasgar era grande, então quando eu dei o primeiro gole, foi uma maravilha! A melhor sensação do mundo! Quase a mesma coisa aconteceu quando eu não conseguia comer comida; como eu usei traqueotomia eu tive que reaprender a beber e comer, pois os músculos que comandam essas  ações ficaram enfraquecidos pela falta de uso. Então, eu tiver que começar a comer igual a bebê, primeiro sopa, depois papinha, mingau, gelatina, para só ai comer sólodos; eu via programas de culinária na TV e ficava com água na boca, eu pedia para mudra de canal, para não passar vontade. E nem preciso dizer que meus primeiros pratos de comida foram inesquecíveis!E depois de reaprender a sentar, a andar. Eu fiquei sem falar também, por um tempo, porque usei traqueotomia, pois quando eu cheguei no hospital eu já estava sem respirar, e precisei ser entubada, então até respirar e a falar eu precisei reaprender, e vocês não sabem a sensação de querer falar e não conseguir, e para me comunicar, eu escrevia em uma lousa, mas as vezes a ansiedade era tanta que eu escrevia rápido demais e as pessoas não entendiam o que eu escrevia/ o que eu queria dizer, outro dilema, ai eu me comunicava por códigos, tentava escrever mais devagar até me entenderem, e só fui falar novamente quando tiraram a traqueo, e mesmo assim minha voz foi voltando aos poucos. EÉ por esses e tantos outros motivos que hoje em dia eu dou valor as pequenas coisas, e problema para mim são meros acasos da vida, não fico mais irritada nem mal-humorada como ficava antes, afinal não é ficando assim que vou resolver eles, e problema todo mundo tem, o que difere uma pessoa da outra é a maneira que cada um enxerga o seu problema.