Estamos vivendo uma situação que quase ninguém imaginava que pudesse acontecer em nossas vidas, de termos que algo que pudesse nos privar de nossa liberdade, do nosso direito de ir e vir, tudo por causa de um vírus, uma criatura que nem é considerado um ser vivo, mas que causa um estrago tremendo em nossas vidas, além de ter acarretado ao mesmo tempo milhares e milhares de mortes em todo o mundo e em pouco tempo, mas o que tudo isso está nos mostrando? O que tudo isso pode mudar em nós? É essa a pergunta que todos devemos fazer a nós mesmos e é o tipo de pergunta que eu me fiz há 10 anos atrás quando sofri o AVC, depois do impacto inicial, de entender tudo o que estava acontecendo em minha vida, eu comecei a me perguntar: qual caminho eu devo seguir? Eu tinha duas opções: ou eu me entregava a vitimização, a depressão de ter a minha vida interrompida por um acidente, ou eu levantava minha cabeça e seguia em frente; até que o médico que me operou me disse que eu podia voltar a ter uma vida normal, e foi então que eu decidi que eu queria voltar a ter uma vida normal. Eu sempre soube que eu nunca voltaria a ser o que eu era antes, que eu sempre teria minhas limitações, mas que eu podia me dedicar pra chegar cada vez mais próximo daquilo que eu era antes, e hoje 10 anos depois eu vejo que meu objetivo foi alcançado, eu tenho as minhas limitações, algumas coisas ainda não consegui recuperar, isso não quer dizer que eu desisti, mas eu tenho uma vida normal. Depois de ter sido privada da minha liberdade, de ter ficado um ano na cadeira de rodas, hoje eu consigo ir onde eu quiser e a hora que eu quiser, faço todas as minhas coisas sozinha, e de uma forma ou de outra esse período fez com que eu passasse esse tempo de isolamento sem ficar pensando naquilo que eu não podia fazer, mas pensando naquilo que eu podia fazer, e foi isso que eu fiz, então eu aproveitei que eu estava, ou melhor ainda estou fazendo todas as minhas atividades em casa e naquele tempo de era usado para o deslocamento ou então naqueles dias que provavelmente eu estaria fora de casa, com outras pessoas, eu aproveitei pra estudar, porque além de tudo eu estou fazendo outra faculdade, remotamente, o que foi ótimo, porque nada foi alterado, pelo contrário, eu ganhei mais tempo para me dedicar, além disso eu fiz alguns cursos online, aproveitei pra assistir filmes e séries, que estavam na minha lista há tempos, aproveitei para ler, algo que eu gosto tanto, aproveitei para economizar um dinheiro e vi que não é tão difícil fazer isso, como a maioria das pessoas pensam e agora eu sei como aproveitar o meu tempo de maneira mais eficiente e como organizar as minhas contas e despesas. Eu vejo relatos de gente que começou a valorizar as coisas simples, que se martirizava por ter que ficar em casa por tanto tempo, mas isso foi algo que passei lá atrás no começo da minha recuperação, então essa fase foi pra mim de reflexão, de pensar em como eu iria ocupar o meu tempo sem ser só com streaming ou então dormindo e comecei a procurar outras alternativas, continuei seguindo minha rotina como se estivesse fazendo tudo fora de casa, continuo acordando, me alimentando e indo dormir no mesmo horário de antes, apenas acrescentei mais coisas produtivas no meu dia, e com isso eu nem tenho tempo pra pensar que estou fazendo tudo em casa. Hoje 9 meses depois que tudo começou eu ainda continuo fazendo tudo em casa, saio muito pouco, é mais pra ir no médico ou então na casa da minha irmã, e posso dizer que não me sinto prejudicada em nada, não vou dizer que eu ganhei alguma coisa com isso, porque seria completamente insensível, esquecer todas as vidas que foram perdidas, por mais que não seja nenhum conhecido meu, mas eram vidas, e posso dizer que está sendo uma fase de conhecimento e reflexão. A partir do momento que pensamos naquilo que podemos fazer e não naquilo que não podemos, que pensamos no presente e não no passado ou no futuro, nossas perspectivas mudam completamente e isso faz com que possamos melhorar ou piorar as nossas vidas e essa escolha será somente nossa.
