terça-feira, 4 de junho de 2019

Depois da tempestade sempre vem a calmaria

Muita gente já disse pra mim: eu não sei como você consegue! Eu sempre respondo que eu tinha duas alternativas, uma seria eu me entregar e ficar presa numa cama ou numa cadeira de rodas para sempre. A outra, que eu escolhi foi levantar, erguer a cabeça, agradecer por estar viva e ir atrás de me recuperar para ter uma vida normal. Quando eu ainda estava no hospital, o neurocirurgião que me operou me disse que eu podia voltar a ter uma vida normal e foi isso que me motivou a criar forças para recuperar os movimentos perdidos e ter controle novamente da minha vida. Hoje, 9 anos depois, de tudo ter acontecido, eu posso dizer que eu tenho uma vida normal, eu tenho minhas limitações, sempre vou ter, mas eu não deixo de fazer nada do que eu quero fazer, sempre existe uma maneira de fazer aquilo que você quer, é preciso se manter calma e não se desesperar que logo a solução aparece. Pensar que sempre existe alguém pior que você é outro combustível que pode não deixar você desistir. No meu caso, eu tenho sorte de ter só um lado do corpo mais fraco do que o outro e esse não é o meu lado dominante, o que facilita muito para eu fazer as coisas com apenas uma parte do corpo. 
Na hora do desânimo eu penso num amigo que tenho que depois de um acidente ficou paraplégico. Eu falo pra ele que não consigo imaginar como é a vida dele, por mais que eu já tenha ficado um tempo sem mexer nada do meu corpo, tenha ficado um ano na cadeira de rodas, mas mesmo assim não dá pra imaginar como é a vida sem o controle dos quatro lados do corpo. Por mais que alguém chegue para mim e diga que imagina o que eu passo ou o que eu passei, e por mais que a pessoa tenha essa intenção não tem como alguém que não passou pela mesma situação que você,  seja ela qual for, possa imaginar todas as sensações e sentimentos de quem está vivendo. Viver é completamente diferente de imaginar. Há muitos outros casos mais difíceis que o meu, eu tenho um outro amigo que teve paralisia cerebral quando nasceu, então ele não sabe o que é andar, correr, escrever, mas mesmo assim hoje ele está cursando uma faculdade. São essas coisas que não me deixam pensar em desistir porque se eles conseguem eu também consigo. Todo mundo tem um dia ou outro que se sente sem ânimo, sem vontade, mas somos nós mesmos que não podemos deixar esse sentimento nos dominar e mudar nossa postura, pensando de maneira diferente e não se entregar. Não é fácil fazer isso, é um exercício diário, mas quanto mais você você faz, mais esse comportamento se consolida na sua vida.
Então, quando vier aqueles pensamentos que te colocam pra baixo e que querem te fazer desistir, pensa que sempre tem alguém numa situação pior que você e que você não quer piorar, mas sempre melhorar, nunca retroceder, nossa evolução tem que ser diária, vivendo um dia de cada vez e se tornando cada vez melhor, dia após dia.
Logo nos primeiros anos da minha recuperação eu recebi a mensagem de um amigo que eu sempre leio quando estou nesses dias.
“Reconhcemos pessoas fadadas a serem felizes, quando estas são surpreendidas pela vida e mesmo assim recebem tudo que vem pela frente com a grandeza dos escolhidos. Quando recebi a notícia do que lhe aconteceu, senti algo quebrar dentro de mim, senti tristeza e vazio, impotente por nada poder fazer, por não ter o poder de dizer que tudo ficaria bem. 
Me faltou a coragem de te ver no hospital, briguei diversas vezes com a vida por ela ter lhe imposto esse obstáculo àquela altura da vida, chorei calado diversas vezes por não saber lidar com o que acontecia, queria escrever mas não tinhas as palavras certas, queria falar mas minha desenvoltura havia se perdido. E logo eu que tanto conversei com você por 4 anos de faculdade e por 11 de amizade quase todos os dias via fone, MSN, Orkut...
Mas algo me bloqueava, algo me deixava com medo de não reagir da maneira que você merecia que eu reagisse, a gente sempre riu e chorou com a mesma intensidade, nos tornamos amigos de verdade, confidentes de verdade, mas na hora que talvez você precisasse de uma palavra minha eu não consegui lhe dar e me cobrei e me puni muito por isso. 
Em contrapartida sabia que você estava se recuperando, que você era melhor e mais forte que eu, que você acreditava que o obstáculo já havia sido ultrapassado e que você sairia mais fortalecida de tudo que acontecera contigo. O dia que fui a sua casa lhe ver e que conversamos das mesmas coisas de sempre, que falamos bem (e mal) das mesmas pessoas de sempre, percebi que eu não sabia nada da vida, que não sabia a força que as pessoas tem.
Você é minha irmã, é uma pessoa muito importante na construção do caráter que eu tenho hoje, é a pessoa que me fez enxergar que devemos sempre olhar adiante e não parar no tempo para lamentar, o apreço, o respeito e o carinho que tenho por ti não é calculável, mesmo me achando o amigo mais ausente e desnaturado do mundo, saiba que você me fez fazer uma coisa que a anos não fazia, rezar e pedir por alguém que sempre vai merecer o melhor, porque você sempre foi uma pessoa que inspira e que faz todos a sua volta serem pessoas melhores”.
No pain no gain

Um comentário:

Marilda P.Q.Cardozo disse...

Oi linda! Érica, querida, Parabéns, pela força, coragem de se abrir, o mundo está aí e os acontecimentos que junto vem com o viver e o morrer, pra servir de exemplo e vc é um baita exemplo de vida, pra todos nós! Continua sendo essa guerreira, animada, fazendo presença no caminho do viver!... Sinta se abraçada por mim sempre, te amo por demais, queridoca!... Beijuuu