quarta-feira, 28 de abril de 2021

Como você cuida da sua saúde mental?


A pandemia do coronavírus trouxe à tona problemas que já existiam em nossa sociedade mas eram mascarados. Hoje a expansão da contaminação pelo coronavírus, faz com que muitas pessoas, além de não poderem sair de casa, quando podem sentem medo, ansiedade. “A pandemia desorganiza nossas certezas e desestrutura nossos comportamentos, o vírus é uma pulsão de morte!”, constata a psicanalista Vanessa Higino.
“O sentimento de medo nos assombra 24 horas por dia, porém não afetam a todos os seres da mesma forma,  esse comportamento muda de acordo com a classe social e intelectual”, ressalta Vanessa.
São sentimentos que afetam nosso rendimento, nossa concentração, nossos relacionamentos.”As pessoas relatam muitas angustias, principalmente sobre a privação de liberdade, ou o confinamento familiar e profissional, o medo é generalizado”, afirma Vanessa.
E isso faz com que as pessoas tenham reações que são prejudiciais para as nossas vidas. “ O Medo de de ficar doente  faz com que as pessoas fiquem mais paranóicas, isso leva ao stress, esgotamento mental, fobia social, transtorno de ansiedade... quadros que se tornaram muito comuns nessa fase pandêmica,  a convivência interna, rotineira das famílias mais o trabalho home office tem gerado grandes crises familiares e violência”, alerta Vanessa. O Brasil teve mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher, segundo relatório divulgado pelas plataformas do disque  100 e ligue180. Só em São Paulo houve um aumento de 555%, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
E como as pessoas podem lidar melhor com esse tipo de situação? Ao contrário do que alguns podem pensar,  Há saídas para melhorar nossa saúde mental nesse momento.  “Creio que ter informações, status sobre  a pandemia é importante, porém ficar muito conectado  nesse tema não é saudável para qualquer humano. Devemos ocupar nosso tempo com diversidades de assuntos, intercalando  rotinas domésticas e profissionais  o mais próximo do normal,  não temos previsão de quando isso mudará, então nos  adequar a novos padrões se fazem necessário”, pondera Vanessa.
A fé pode ser uma grande aliada. “Outro pilar importante nesse momento é o espiritual, nos aproximar de Deus ajuda muito!”, acrescenta Vanessa. Para os céticos, “o autoconhecimento e aceitação é um bom principio para lidar com esse momento”, acrescenta  Vanessa. A tecnologia que temos disponível hoje pode ser usada a esse favor também. “Temos canais de comunicação através de internet que podem  e devem ser usados para nos aproximar dos nossos entes queridos  e dos amigos, usando de maneira correta, diminui os vazios”, diz Vanessa.

Além disso, o fato das pessoas serem privadas de coisas como o direito de ir e vir e de passarem muito tempo em casa, o que não acontecia antes da pandemia faz com que os números de suicídio aumentem, por exemplo. “ As questões econômicas e financeiras têm provocado alguns surtos o que levam ao suicídio”, afirma Vanessa.
Segundo  a Organização Mundial da Saúde, cerca de 1 milhão de pessoas tiram a própria vida por ano (uma a cada 40 segundos), e, no Brasil, os casos passam de 12 mil. No Japão, o índice aumentou 70%, em comparação com o ano anterior.
Mas nem todas as classes sociais são afetadas por essa constatação.  “Esses sintomas são inerentes aos médios e pequenos comerciantes e empresários, mais os autônomos. A fome já está assombrando muitos lares, e esse nível social é o mais afetado pela pandemia”, alerta Vanessa.
O total de pessoas pobres chegou a 209 milhões no fim do ano passado, 22 milhões a mais do que em 2019, de acordo com o relatório Panorama Social da América Latina, divulgado em março.

É visível o surgimento daqueles que negam a realidade, e porque isso acontece? “O ser humano não lida bem com a privação, hora seu comportamento se altera a uma certa agressividade e rebeldia, levando uns a furar a quarentena ou agredindo físico ou verbalmente os seus e o meio” relata Vanessa. Mais do que isso, “As pessoas  não lidam bem com seu próprio eu, as redes sociais comprovam essa fala”, reitera Vanessa.
Esse momento afeta a dinâmica das famílias e os relacionamentos entre eles. “Acho que  a convivência isolada e o alto nível de preocupação geram muitos conflitos que podem levar a separações. Sempre digo que tomar decisões em momentos onde emoções imperam não é indicado. Precisamos nos alicerçar nos princípios, crenças e valores, assim facilitam a convivência conjugal”, sustenta Vanessa.
Enxergar o lado bom das coisas é algo difícil, mas ele sempre existe. “ Adaptações são necessárias.
Não podemos esquecer que apesar da letalidade do vírus, não é uma guerra do Iraque,  não tem conflitos armados, não há bombas; não estou dizendo que é maravilhoso, mas comparando entre a vida e a morte, não é nada o isolamento social diante disso, pois temos Skype, temos zoom, acesso a alimentos e remédios”, pondera Vanessa.

Esses momentos difíceis podem ajudar as pessoas a melhorarem muitos aspectos da sua vida. Algumas pessoas readequam suas prioridades, outras passam a valorizar as coisas simples da vida, como a vida em família, o relacionamento com os amigos, ou o simples fato de estar vivo. Mas isso não acontece com todos.”Existe uma fatia que sim, enxergam as coisas dessa forma,  resignificando  muitas coisas, principalmente quem passou pela doença e sobreviveu ou perdeu alguém,  porém quem não tem essa sensibilidade de ver o momento como oportunidade de ser melhor, continuará como é ou até pior “, enfatiza Vanessa.
Um ano depois do começo dessa pandemia podemos enxergar uma luz no fim do túnel. Em tempo recorde, cientistas criaram vacinas que nos dão esperança de dias melhores e a esperança de que nossas vidas, um dia podem voltar a ser o mais próximo do que nossas vidas eram antes. Muita coisa vai mudar, isso não há dúvidas, mas poderemos voltar a fazer as coisas que desejamos e não podemos ou não conseguimos fazer agora, a encontrar as pessoas e a viver de uma forma mais livre do que hoje.

 

terça-feira, 9 de março de 2021

Para um mundo melhor

 2020 foi o ano que o mundo parou, ruas completamente vazias lembravam cenários mostrados tanto na série de TV The Walking Dead, que retrata um apocalipse zumbi, como no filme Ensaio sobre a cegueira, baseado no livro de José Saramago, sobre uma epidemia chamada cegueira branca. E essas duas obras tem muito mais coisas em comum com a pandemia de coronavírus do que apenas o cenário, nas duas um vírus desconhecido causou essas realidades expostas. Na nossa realidade vivida hoje, a pandemia do coronavírus nos trouxe o isolamento, a doença, a morte e  tudo isso aumentou a desigualdade entre as pessoas, fez com que muitas perdessem sua fonte de renda, aumentou também  a distância que separa as pessoas em categorias sociais, "Somos classificados pelo dinheiro", como resume o filósofo Mário Sérgio Cortella. 

Consequentemente, a miséria aumentou, como  aponta o último balanço divulgado pelo Ministério da Cidadania, em que mostra que 14 milhões de brasileiros viviam na extrema pobreza em outubro de 2020, maior número desde outubro de 2014, esse total equivale a 39,99 milhões de pessoas com renda per capita de R$ 89. Além disso, desde o início do governo Bolsonaro houve um salto de 1,3 milhão de famílias em condição de miséria. Eram 12,3 milhões no final de 2018.

  1. Mesmo  com a ajuda do governo federal, que manteve a qualidade e melhorou a vida de muitos brasileiros, mas que  depois do seu término fez com que 69% das pessoas que receberam o auxílio emergencial  não encontrassem outra fonte de renda para substituir a ausência do benefício que acabou no final de 2020, como aponta uma pesquisa divulgada pelo Folha de S. Paulo,  feita entre os dias 21 e 22 de Janeiro de 2021 com 2.030 brasileiros, que mostra também um crescimento mais baixo do que a média nacional para esse ano. 
Em outra pesquisa feita pela consultoria Tendências  que projeta uma queda de cerca de 8% nas rendas dos cidadãos das regiões norte e Nordeste, vemos que muitas pessoas estão com dificuldade de se adaptar a essa nova realidade, ao novo normal como muitas pessoas classificam.
Ainda Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea), 2,9 milhões de domicílios sobreviveram em novembro, apenas com o valor do benefício.
E hoje, 1 ano  depois do começo da pandemia, 32 milhões de brasileiros foram afetados pela falta de trabalho desde o quarto trimestre de 2020, destes 5,8 milhões desistiram de se inserir novamente no mercado de trabalho, segundo dados do IBGE. 
Já a taxa de desemprego no ano passado foi de 13,5%, a maior da série iniciada em 2012, o número de desempregados no fim de 2020 foi estimada em 13,9 milhões.
Apesar dos números surpreendentes, a pandemia, também trouxe mudanças para a vida em sociedade, o isolamento conseguiu unir famílias, aproximar casais dos filhos, fez com que encontrássemos outras formas de ver os amigos e familiares distantes, seja apenas por uma ligação ou mesmo uma videochamada , pra rever o outro, não pessoalmente, mas ver seu rosto, suas expressões, seu sorriso, fez as pessoas reverem suas prioridades. A escritora Clarice Lispector, em sua última entrevista, no final dos anos 70, já dizia que:  “as coisas mais simples são recebidas com dificuldade.”
Mais ainda ainda, a pandemia fez lojas, bares e restaurantes a adotarem sistemas de entrega e compras online, e as empresas adotarem uma nova forma de trabalho, o home office, em que as pessoas exercem as mesmas funções que estariam fazendo na empresa, só que em casa.
 Em 2019, em uma entrevista ao programa de TV Roda Viva, transmitido pelo Canal Cultura de Televisão, o historiador israelense Yuval Harari fez um alerta para a necessidade das pessoas se adaptarem às mudanças, porque isso vai se tornar cada vez mais constante no futuro, e em 2020 ele diz que: “o perigo não é  o vírus, mas a ganância e a ignorância.”