“O
segundo país no roteiro até a Índia por terra, desde a Europa, foi o Irã.
Contudo, já neste ponto tive que abandonar a ideia do percurso por terra. A ida
para a Capadócia mudou os planos, e como o trem que sai de Ankara, centro da
Turquia, e vai até Teerã, capital do Irã, só sai uma vez por semana e a viagem
dura 3 dias, teria que ficar muitos dias ocioso em território turco. Então,
encontrei uma passagem aérea com bom preço desde Istambul até Teerã, e parti
por via aérea.”
O
Irã é o segundo maior país do Oriente Médio, com quase 77 milhões de
habitantes. O país é o lar de uma das civilizações mais antigas do mundo. Os
povos iranianos unificaram o país no primeiro de muitos impérios que iriam se
seguir em 625 a.C. A Revolução
Constitucional Persa de 1906 estabeleceu o primeiro parlamento da nação, que
operava dentro de uma monarquia constitucional. Após um golpe de Estado e com a
crescente oposição contra a influência estrangeira, acabaram por criar uma
república islâmica em 1979. A língua official lá é o persa e a moeda é o rial
iraniano.
“A
minha expectativa em visitar o Irã estava alta: tanto pela enorme diferença
cultural, quanto pelas atrações a serem visitadas. Me passaram uma definição
geral do Irã: imagine um país em que todo mundo é católico, muito católico, e o
presidente é o Papa. Imagine também que tudo o que a Bíblia prega é lei no
país. Isso é o Irã. Todo mundo é muçulmano e tudo o que o Alcorão diz é lei. E
a grande maioria da sociedade acredita que isso seja bom. Lá a igreja e o
estado não são separados, então, por exemplo, é lei todas as mulheres cobrirem
a cabeça e o corpo em público, nem que seja com um pequeno lenço.”
“No
Irã o turismo estrangeiro é bem menor do que estamos acostumados. Durante o
tempo que estive lá consegui identificar três tipos de turismo: pessoas mais
velhas, cultas, que gostam de ver coisas bonitas, que entende de arte; aquelas
pessoas que tem como objetivo visitar o maior número de países possível ao
redor do mundo, sem razão aparente, somente pelo número e para dizer "eu
fui"; e um grupo maior de pessoas como eu, que pega a mochila e sai para
conhecer coisas novas, diferentes. Deste grupo maior tem gente fazendo de tudo,
viagem por terra, pelo ar, de moto, de carro, caminhão... Não existe aquele
turismo tradicional que a gente vê na Europa ou na Argentina, por exemplo, de
gente que vai com pacotes turísticos, onde a intenção principal é consumir a
cidade, consumir as coisas... “
“Assim,
é incrível a diferença como as pessoas te tratam. A diferença física entre a os
turistas e os locais é grande, então a gente não consegue passar muito
desapercebido pelos lugares. São raríssimos os locais onde se vai e os locais que
não queiram saber de onde somos, o que fazemos, o que estamos fazendo lá, o que
a gente faz em nossa casa... A cultura é diferente para ambos, então eu me
interessei muito em saber todas estas coisas deles também.
“Uma
coisa "engraçada" é que lá o Facebook é bloqueado pelo governo, mas
todo mundo tem seu perfil e acessa com umas gambiarras. Uma das primeiras coisa
que eles pedem é para adicionar no Facebook, querem seu número de telefone,
querem que você guarde o número de telefone deles. Eles são muito receptivos.
Foi uma experiência fantástica para mim!”
“A
maioria das reportagens que chegam até nós sobre o Irã ou tratam do povo vier
numa "ditadura", ou sobre ameaças nucleares ou injustiças sociais
contra mulheres e homossexuais. Chega alguma coisa boa? Então, mesmo que
inconscientemente, o nosso preconceito é gigante, e fica escancarado, mas
quando chegamos lá e vemos que as coisas não são bem assim... Ninguém
fala por exemplo desta receptividade do povo, ou como a família é importante
para eles, por exemplo. Na sexta-feira deles, que é equivalente ao nosso
domingo, ninguém faz nada. Está tudo fechado. Mas, você vai aos parques e vê
todo mundo com a família, se divertindo. Eles vão de manhã ao parque,
comem lá, depois tiram uma soneca, e
fica todo mundo junto, por um longo tempo, várias famílias.”
O
papel da mulher na sociedade do Irã também é algo muito curioso e diferente
para nós. Não vou entrar na questão dos direitos ou deveres, que como eu disse,
fazem parte da lei devido ao cunho religioso do estado, que é apoiado pela
grande maioria. Mas nos transportes públicos, por exemplo, há os vagões
específicos para as mulheres (se isso é bom ou ruim é outra questão) e
outros que são mistos. Quando as mulheres entram nos vagões mistos nenhuma
mulher fica de pé, sempre oferecem um lugar para elas. Nas ruas não existe isso
de ficar mexendo com mulher, falando besteira, assoviando. É uma cultura
diferente. E essa coisa da vestimenta é algo muito cultural, religioso, para
elas é normal se vestir daquela forma.”
“No
Oriente Médio em vários países você pode casar com mais de uma mulher. No Irã
pode-se casar até com quatro mulheres, se não me engano, mas ninguém casa com
mais de uma. Eu conversei com vários homens, e eles me falaram que para eles a
família é super importante.”
A
cidade que ele mais gostou de lá foi Esfarram, “uma cidade que foi capital do
Irã por muito tempo (hoje a capital é Teerã). A cidade é super arborizada, tem
vários museus e, como não podia deixar de ser, as pessoas são super receptivas
com os turistas. E apesar do que falam, é um país super seguro, não me senti
"em perigo" em nenhum momento.”
“E
na década de 80 houve a Guerra do Irã contra o Iraque, e até hoje há postêrs
espalhados pelo país inteiro, com retratos dos soldados que foram importante
para a Guerra. E a partir dessa Guerra muita coisa mudou lá, muito devido ao
interesses internacionais no petróleo deles,e eles têm um programa de
enriquecimento de urânio, que o Irã diz que é só para fins nucleares e a ONU
diz que é para construir bomba atômica. Por causa disso eles sofrem várias
sanções comerciais. A grande maioria das coisas importadas são chinesas, é
difícil se ver lojas de grife, por exemplo. A quantidade de coisas falsificadas
é absurda. Os bancos não estão ligados com o sistema internacional, então
cartão de crédito só o deles (temos que viajar com dinheiro vivo por lá).”
A
Guerra entre o Irã e o Iraque aconteceu entre setembro de 1980 e agosto de
1988, e foi o resultado de disputas políliticas e territoriais entre ambos os
países. Os Estados Unidos, cujo presidente era Ronald Regan apoiavam o Iraque.
O conflito começou a preocupar efetivamente as potências quando atingiu o fluxo
regular do petróleo. A partir disso começaram as pressões mundiais por paz. Em
1990 o Iraque aceitou o acordo de Argel que estabelecia fronteira com o Irã.
Não houve ganhos e as perdas foram estimadas em 1 milhão de vidas.
“Lá
a gasolina é super barata. O governo subsidia gasolina e energia elétrica, com
isso o transporte publico também é muito barato. Os ônibus são super
confortáveis, as estradas são boas, e a cada 100 km o motorista tem que parar e
entregar um relatório que o ônibus marca, falando qual a velocidade que ele
andou durante o percurso. Então andar de ônibus no Irã é seguro, confortável e
barato.”
“Mesmo
com a grande desigualdade social não há mendigo nas ruas. Não se vende bebida
alcóolica em lugar nenhum. A vida dos jovens é como a nossa, eles fazem
faculdade, namoram, terminam, namoram de novo, casam, é tudo igual. Antes de eu
ir para lá eu tinha lido um texto que o título era: O Irã é o país mais
injustiçado do mundo. E depois de ficar 11 dias lá eu cheguei a mesma
conclusão. Quando eu fui fazer o check-in no aeroporto, a funcionária da
companhia aérea perguntou: você não está indo para Tel-aviv? Eu respondi: não,
Teerã, Irã. Ela custou a entender, e me perguntou mais duas vezes se eu tinha certeza
que estava indo para o Irã. A mulher da companhia aérea! Meus amigos falaram a
mesma coisa - 'O que você vai fazer lá? Tem um monte de homem bomba!'.
E o melhor
de tudo que não é somente a receptividade do povo que é grande atrativo do Irã.
“As construções de 1000 a.C., mesquitas lindas, coloridas, super gemétricas,
obras de verdadeiros artistas. O Irã é incrível.”
Veja fotos do país em : https://www.flickr.com/photos/helvio/sets/72157644521879439/
https://www.flickr.com/photos/helvio/sets/72157644924799671/
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