terça-feira, 25 de agosto de 2015

Minha Revolução Pessoal


O AVC me fez enxergar o mundo e as coisas de uma maneira diferente e mais do que isso, me fez pensar no modo como eu levava minha vida e a primeira coisa, o mais importante de tudo, me fez querer a não ter mais a vida frenética e sem motivo que tinha antes, então, além de toda a transformação que passo diariamente ao reaprender a fazer coisas que parecem simples, eu também promovi uma revolução pessoal em muitas áreas da minha vida. A primeira delas foi deixar de comer carne (eu na verdade eu como apenas peixe, porque preciso do ômega 3 para minha reabilitação, uma vez que o ômega 3, reveste a camada do neurônio, ele é muito importante para mim; mas tenho algumas ressalvas, não como atum porque está em extinção e salmão eu como em raras ocasiões, porque a maioria deles é criada em cativeiro) e aporquê? O primeiro motivo é porque nunca me senti bem comendo carne, sempre me senti pesada, não comia direito. Hoje me alimento bem melhor. Não tenho dúvidas. Outro motivo é tudo o que a indústria dos frigoríficos promove: o desmatamento indiscriminado, a matança exagerada (eu acho que há muito mais carne disponível para ser vendida, do que as pessoas realmente consomem, hoje em dia, tudo gira em torno do dinheiro, não da questão nutricional), se tudo fosse mais controlado, como era feito antigamente, com certeza, tudo seria bem melhor. Mas eu não estou escrevendo isso para doutrinar ninguém, eu acho que cada um sabe de si e eu fiz isso por mim, não para provar nada para ninguém, mas é como eu li uma vez num texto do Gregorio Duvivier, a pior parte de se tornar vegetariano não é deixar de comer carne, mas ter que explicar para os outros porque você parou de comer carne e eu me identifiquei muito com isso, porque eu passei muito por isso. E mesmo não tendo optado por me tornar vegana (que é a pessoa que não consome e nem usa nada de origem animal), eu também optei por rever os cosméticos, a maquiagem que estava usando e até as minhas roupas e hoje não uso nada de nenhuma marca que faz teste em animais. E procuro comprar roupas de marcas com trabalho sustentável, e acima de tudo que não utilizam trabalho escravo. Não vou dizer que doei todas as minhas roupas que não se adequavam a isso, porque não é verdade, ainda não cheguei a esse nível de evolução, apenas não compro mais. E vendo meu feed notícias no facebook ultimamente, sinto que estou cada vez mais no caminho certo.
Primeiro, foi uma amiga assessora de imprensa que postou: que ao assistir o documentário True Cost Movie, ela recebeu o que pareceu ser um soco no estômago, por ter ilustrado aquilo que ela já sabia, mas que ainda não tinha se tocado tão profundamente. " A ganância é câncer desse mundo e domina uma das minhas paixões antigas, que é a moda. Senti nojo da indústria fast fashion, tristeza por ter ficado tantas vezes deslumbrada com tanta oferta de roupas fofas  e baratas, na Forever, na Zara ou H&M, chocada com essa sociedade que privilegia as coisas em detrimento das pessoas".
Depois, foi a vez do meu ex-editor postar um texto que fala que hoje em dia as empresas estão cada vez mais valorizando diplomas em Ciências Humanas e porquê? " Graduações liberais tendem a ser mais flexíveis a manter os olhos mais abertos para insights, as ideias que aparecem ao se unir várias pontas soltas nem sempre tão próximas." E mais do isso, a classe criativa superou o resto da economia, crescendo 40%, ligeiramente mais do que a média de 38% das demais carreiras. 
E por fim, veio uma amiga também assessora de imprensa que postou um artigo que fala do perfil do profissional do presente: "os profissionais do presente buscam satisfação profissional e pessoal. O mercado do presente é uma troca justa entre empresas e profissionais."
Eles refletem exatamente aquilo que quero para mim agora, uma vida leve, calma, com motivação e sem pressão.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Viver sem pressa

Uma das lições mais valiosas que aprendi com o AVC foi a viver sem ter pressa, eu era uma pessoa muito agitada, queria tudo muito rápido e o AVC me trouxe a calma e a paciência que eu não tinha e que na correria do dia a dia nos esquecemos como esses ingredientes são essenciais para a nossa vida, pois são eles que nos ajudam a resolver e a solucionar nossos problemas. Uma vez, eu li uma frase em que dizia que um problema é do tamanho que você dá para ele. E eu acho isso a mais pura verdade, porque veja só, quando alguma coisa acontece na sua vida, é você quem vai determinar se ela é boa ou ruim e também é você quem vai determinar a imensidão disso na sua vida, tudo depende da maneira como você enxerga as coisas.
Eu já escrevi em alguns textos meus que nunca enxerguei o AVC como um problema, mas como uma evolução e continuo afirmando isso, porque é isso o que eu sinto. Quando eu estava internada, é claro que eu cheguei a me perguntar: porque isso aconteceu comigo? Mas ai eu recebi a visita de uma amiga e ela me disse: Érica, você já parou para pensar que pode ser que Deus esteja mandando uma mensagem para você? Ele pode estar querendo te dizer para você parar um pouco, fazer as coisas com mais calma e do outro lado minha família dizia: você é uma sobrevivente, diante ao que você passou, poucas  pessoas se recuperam e eu nunca me esqueci disso e foi isso que me deu força para seguir em frente e chegar até aqui e continuar seguindo, pois eu sei o quanto é difícil se manter em pé, eu literalmente tive que aprender e estou aprendendo a fazer tudo de novo então tudo o que eu faço hoje é feito com muito cuidado, com muita atenção, porque só eu sei o quanto eu batalhei para chegar até aqui e vou batalhar mais para ganhar muito mais. E mais, eu sempre fui uma pessoa que aproveita as oportunidades que aparecerem e continuo fazendo isso, mas hoje, as coisas ganharam uma beleza diferente, pois cada coisa nova que eu consigo fazer para mim é enriquecedor e de uma grandeza imensa. Então tudo para mim ganhou um outro significado. Então,  porque fazer as coisas com pressa?
E porque eu estou escrevendo tudo isso? Um tempo atrás eu li um texto muito interessante, que falava basicamente disso, vou colocar o link dele aqui para vocês, quem puder ler, leia também, garanto que não irá se arrepender. Ele me deu inspiração para montar esse texto aqui.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Consciência - Bom senso

Depois que eu tive o AVC eu descobri que pela lei eu sou considerada uma deficiente física, não por portar alguma deficiência, mas por causa de algumas limitações que agora tenho, fisicamente, por conta do AVC que sofri. Pela lei do Governo do Estado de São Paulo, a pessoa portadora de deficiência é aquela que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade, como alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob forma de tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiparesia(meu caso), ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas, ou as que não produzam dificuldades para o desempenho das funções.
Sendo assim, desde então eu possuo um cartão de deficiente, sem validade, que me dá o direito de estacionar nas vagas disponíveis exclusivamente para os deficientes físicos em estacionamentos dos mais diversos estabelecimentos e não ser multada. Mas a realidade é muito diferente da teoria, o que acontece na maioria das vezes e não estou exagerando, é que essas vagas estão ocupadas por pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência ou limitação. Só para dar alguns exemplos, na clínica onde faço fisioterapia, eu já perdi a conta da quantidade de vezes que minha mãe teve que estacionar na rua e eu tive que atravessar a rua, esperando a boa vontade de um possível motorista, caso algum carro eventualmente possa vir nesse meio tempo, para que ele tenha paciência e aguarde eu terminar de atravessar a rua. Tudo isso porque só há duas vagas destinadas aos deficientes físicos e uma é somente para embarque e desembarque, e as duas  estavam ocupadas, mas as pessoas, estacionam seu carro nas duas vagas e nem se preocupam se outra pessoa pode chegar e precisar usar. Uma vez eu estava em um shopping em São Paulo e tinha somente uma vaga para deficiente disponível, eis que de repente surge um carro na nossa frente e estaciona na vaga, a gente aguardou um pouco para ver quem ia sair do carro, quando sai uma mulher sem deficiência ou limitação alguma, meu irmão pergunta para ela: "você tem cartão de deficiente?"É claro que ela respondeu não, então ele falou:" então você por favor pode sair dessa vaga porque minha irmã é deficiente, nós temos cartão e não há outra vaga disponível", menos mal que a mulher saiu. Já aconteceu também de eu ir no banco, a vaga estar ocupada, minha mãe me deixou na porta e depois foi me buscar e estacionou o carro em um lugar longe. Enfim esses são só alguns exemplos do que aconteceu comigo, mas eu tenho amigos que são cadeirantes e com eles também já aconteceram inúmeras situações parecidas com essas e sempre penso, comigo é bem menos pior porque eu ando, devagar e com bengala, mas ando, mas com eles que estão condicionados a uma cadeira de rodas é bem pior, porque a locomoção é bem mais difícil. E ainda penso, antes do AVC eu nunca estacionei em uma vaga para deficientes físicos, nem por cinco minutos que seja. Será que essas pessoas não têm consciência ou bom senso, para parar e pensar, " será que alguém que realmente precise dessa vaga não vai chegar nesse tempo?" Sempre me questiono isso e sempre acabo ficando sem resposta.
Enquanto isso vão surgindo "brincadeiras" desse tipo:

terça-feira, 19 de maio de 2015

O Recomeço

Hoje é um dia muito importante para mim, porque hoje completa cinco anos que tive um AVC, o que fez eu perder os movimentos dos meus músculos e membros do lado esquerdo do meu corpo. E o que eu aprendi nesses 5 anos de recuperação? Antes disso, só quero que vocês saibam que, algum tempo depois que sai do hospital, depois de ter passado dois meses internada lá, fiz uma consulta com o neurocirurgião que me operou e ele foi muito sincero comigo e disse: " 90% das pessoas que chegam no hospital no estado que você chegou, morrem". Então, eu só posso agradecer por estar viva e poder aprender mais coisas e evoluir cada vez mais. Então, eu aprendi a valorizar coisas que eu não prestava mais atenção no meu dia a dia. Aprendi a enxergar os problemas de uma maneira diferente, aprendi a me valorizar e não esperar que os outros façam isso por mim. Isso porque eu tive que reaprender a respirar, a girar a cabeça novamente, a sentar, reaprender a comer, a beber, a falar, reaprender  a movimentar minha perna novamente, para depois conseguir ter equilíbrio e então andar, reaprendi até a segurar o xixi novamente, para não fazer xixi na calça e deixar de usar fralda! ( isso é um breve resumo de toda minha evolução, desde a UTI até o retorno para casa) Tive que fazer tudo de novo, como uma criança, mas sem o corpo de uma criança. Eu sempre brinco que agora tenho seis vidas e vou fazer de tudo p mantê-las durante muito tempo e vou aproveitar cada segundo delas!
E eu estou chegando na metade do caminho da minha plena recuperação,  vamos considerar assim, porque eu pretendo deixar de andar de bengala e ganhar os quilos que eu quero ganhar para ter um peso saudável, até o final do ano. Ai será outra batalha a se vencer, que é para eu ganhar mais movimentos no braço e na mão, mas eu também aprendi a fazer uma coisa de cada vez, sem pressa, porque é assim que os resultados aparecem. E é assim que a gente vive, ninguém faz bem duas coisas ao mesmo tempo! E eu só tenho a agradecer, porque sempre tive o apoio e a força dos meus amigos e familiares, que foram cruciais nesses anos todos, sempre me estimulando a seguir em frente e à nunca desistir. E assim sigo, porque a guerra não acabou, algumas batalhas foram vencidas, mas ainda há outras para se vencer e quando a gente tem um objetivo a gente faz tudo para concretizar ele, não é?! Então, eu vou chegar lá, não tenho pressa, aprendi a ter paciência para persistir na minha luta e conseguir os melhores resultados possíveis. E hoje para mim, se pelo menos uma pessoa aprender um pouco que seja com a minha história eu já vou me sentir realizada.